sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Hugo

Diretor recorre ao 3D para declarar seu amor ao cinema
 


    Martin Scorsese é sem sombra de duvida o maior cineasta americano vivo e também considerado um dos maiores cinéfilos envolvidos no mundo da sétima arte. Sim caro leitor, tem muito diretor que faz um tempinho que não põe os pés em um cinema ou muito menos aluga um filminho pra ver nos finais de semana. Todo esse amor pelo cinema fez de Scorsese um dos principais ativistas na luta pela preservação e restauração de películas antigas.Contudo, esse trabalho de cinefilia nos bastidores nunca foram transpostos para  frente das câmeras pelo menos como forma de homenagem ou referencia a suas películas favoritas. O americano foi muito mais além, criou uma linguagem que é só sua. É quase impossível assistir um filme de Scorsese sem identificar seus traços semióticos habituais. O tradicional vermelho scorsese presentes em filmes como: Caminhos Perigosos, Taxi Driver, Cassino; o cristianismo (catolicismo) em : Goodfellas e em A Última Tentação de Cristo; além dos tradicionais mafiosos despidos de qualquer elegância, bem distintos da trilogia de Coppola : O Poderoso Chefão. Por último - sem ordem de importância - seus protagonistas, homens, em sua maioria paranoicos e violentos; estão sempre presentes no universo criado pelo diretor.
   É bem verdade que seus filmes mais famosos estão ligados de alguma forma as suas próprias  vivências. O que seria da estética de Touro Indomável (1980) se Scorsese não estivesse na luta para se livrar do vicio das drogas ? Por falar em estética, é ela a maior responsável pela beleza de Hugo (2011), primeira aventura do diretor em 3D.
   Logo na primeira sequencia do filme o diretor nos apresenta o mundo do personagem titulo, as engrenagens dão lugar a Paris dos anos 30 que logo se afunila para a estação central da cidade luz. A tradicional estética barroca do diretor aqui se apresenta de maneira fantástica com a utilização do 3D, é um filme que vale a pena ver desta forma. Scorsese, diretor da chamada New Hollywood, parece bem confortável com a nova tecnologia. Os planos geométricos de fundo chapado tornam as imagens tridimensionais ainda mais belas.
   A película conta a história de Hugo Cabret ( Asa Butterfield ), filho de um relojoeiro ( Jude Law ), que passa a viver na estação de trem de Paris quando o pai morre em um incêndio no museu. Sua unica lembrança do pai é um estranho robô que precisa de uma chave em formato de coração para poder funcionar e revelar a última mensagem de seu ente querido. Durante esta procura, o caminho do jovem Hugo irá se cruzar com o de um misterioso inventor ( Ben Kingsley ) e uma garota em busca de aventura (Chloe Moretz ).
Cartaz do filme A viagem a Lua, de Méliès.
   Hugo é um flâneur , habilidoso  observador que caminha por entre os esconderijos da estação quase como um fantasma. Por sua condição de flâneur, o garoto experimenta as mais diversas aventuras na Paris cosmopolita condensada aqui, na estação de trem. Em uma dessas aventuras gatunas, o jovem menino atravessa o caminho do personagem de Kingsley, dono de um pequena loja de brinquedos na estação . Através da relação conflituosa  Hugo conhece Isabelle ( Hit girl ) afilhada de Kingsley; apaixonada por literatura e possuidora da chave em formato de coração dada pelo padrinho.
   A partir dessa mola narrativa, fica bem fácil descobrir que existe um forte ligação entre o robô de Hugo é o padrinho de Isabelle. Georges Méliès, lendário cineasta francês, nos é apresentado.Méliès foi um dos primeiros diretores a utilizar a linguagem cinematográfica ( linguagem clássica ), ou seja, o primeiro a utilizar imagens como suporte para uma narrativa. No breve século, com o advento da I Grande Guerra a produção cinematográfica francesa e europeia perdeu espaço para a já estruturada industria americana e seus filmes utilizando o melodrama.
Scorsese faz uma ponta em Hugo.
   Scorsese declara seu amor ao cinema. É maravilhosa as cenas em que o diretor homenageia as primeiras décadas do cinema utilizando cenas de filmes como : A Chegada do Trem na Estação dos irmãos Lumière ( 1895 ). Em 3D as cenas se tornam fantásticas, assim como o filme mais famoso de MéLiès  Le voyage dans la lune ( 1902). Sim, Scorsese recorre ao 3D não para criar uma aventura infanto juvenil fantástica , mas sim , para propor sensações, as mesmas dos primeiros espectadores noturnos , para nós; espectadores acostumados a explosões e muita computação gráfica. Obrigado Michael Bay...O legal é que analisando as primeiras sessões de cinema o assombro permeava o imaginário dos espectadores. Achavam que seriam atingidos pelo trem do filme dos Lumière. Com a tecnologia a serviço de Scorsese, isso realmente ocorre.
O diretor utiliza da metáfora do robô para agradecer a sétima arte por tudo que ela lhe tem proporcionado e finalmente em Hugo temos o filme de cinefilia do americano. Para Scorsese , nunca se esta só quando se tem um bom filme, Hugo entendeu bem a mensagem.

Observações :
 1.O melhor filme de Scorsese na minha opinião é Touro Indomável
  
 2.Hugo é melhor que O Artista mas o segundo irá vencer nas principais categorias.

 3.Hugo vencerá a maioria das categorias técnicas do Oscar

4. Hugo divide opiniões evidentemente porque é muito estranho ver Scorsese dirigindo um filme para a família toda...Cadê a violência ?

5.Christoper Lee faz uma pequena participação no filme como o bibliotecário Monsier Frick. Já vale o ingresso !

6. Algumas lagrimas foram derramadas durante a sessão. Rios de lagrimas são derramadas quando vejo O Lutador ( Darren Aronofsky) e Na Natureza Selvagem ( Sean Penn ).
   
7. A viagem a Lua de Méliès esta disponível no youtube.