segunda-feira, 5 de março de 2012

Um Conto Chinês

Para o diretor a vida tem um sentido mas não  necessita ser precisa


Como falar de algo tão clichê como o destino ? Como como falar de algo bem particular a história argentina - a Guerra das Malvinas - sem distanciar o espectador não argentino da narrativa da película ? Isso para muitos filmes que discorrem sobre a temática é um mistério mas não para Um Conto Chinês, produção argentina sensação de muitos festivais, inclusive o do Rio e vencedor do Goya de melhor filme de lingua estrangeira em 2011.
Filmes como esse me faz perceber o quanto cinematograficamente estamos atrasados em relação aos nossos vizinhos hermanos. Tudo é uma questão funcional e direcional do roteiro, que é primoroso. Graças a ele o filme foge dos habituais clichês fazendo com que a narrativa fílmica não perca folego em nenhum instante. A estoria gira em torno de Roberto ( Ricardo Darin = foda ) um ex-fuzileiro da Guerra das Malvinas  dono de um pequeno estabelecimento do lado da sua casa. O personagem segue uma rotina solitária e metódica. Roberto acorda cedo com aquele mau humor que lhe é peculiar,toma seu tradicional café com leite e pão; abre seu pequeno comercio; resmunga com o distribuidor de pregos por sempre enviar um numero inferior ao pedido. O velho resmungão é a grande paixão Mari ( Muriel Santa Ana ) que constantemente vai a  Buenos Aires , aproveitando a ocasião para visitar seu amor platônico.Roberto tem uma curiosa mania de colecionar matérias absurdas nos jornais que recebe.O interessante é que o personagem sempre se imagina como protagonista das histórias absurdas e algumas vezes macabras mas ilustradas com boas doses de humor pelo diretor Sebastian Borensztein .Tudo isso funciona como um escape para a monotonia do personagem.

A rotina do personagem é quebrada quando o mesmo conhece Jun (Ignacio Huang )imigrante chinês que busca o paradeiro do tio mas pelo fato de ter sido furtado encontra-se desamparado. Mesmo lutando contra, Roberto decide ajuda-lo. A partir dai o filme encontra seu argumento. Os personagens aos poucos tentam vencer as barreiras do idioma, o que nunca ocorre pela disposição de Roberto.

Mari em mais um flerte com Roberto
A falta de comunicação aqui é metaforizada pelo choque entre os dois idiomas. Em boa parte do filme nunca sabemos o que Jun quer dizer. Mas Roberto não esta disposto ao dialogo nem mesmo com as pessoas que falam o seu mesmo idioma. Para o personagem a vida a muito tempo não faz sentido é pra ele um puro capricho do absurdo.Este é o grande fator de colecionar histórias absurdas poder provar que tudo na vida não há sentido algum. Até que Jun prova para Roberto, de uma forma bem inusitada(spoiliers), que a vida tem um grande proposito. O filme mostra com muita leveza , assim como um conto, a trajetória de dois personagens em busca de um novo caminho e redenção.

Bom filme.

Observações :

Numero de vezes vistos : 3

Me identifiquei com o personagem de Darin acredito que se continuar assim logo estarei um perfeito Roberto.

Estou viciado em cinema argentino.

Vi recentemente Medianeiras outra grande filme.

Bloco do Eu Sozinho foi escutado inúmeras vezes para a feitura do texto, claro, em homenagem a Roberto.