sábado, 26 de novembro de 2011

A Árvore de Vida


Malick não é um diretor de fácil compreensão,nos quase 40 anos de carreira esta é apenas a sua quinta realização atras das câmeras.Contudo,sua virtu imprime um estilo de direção de fácil identificação por parte do espectador já acostumado com suas obras.Definitivamente A Árvore da Vida - aqui exposto - é seu trabalho mais grandioso, mas contraditório  a sua linha de pensamento imagético.Os últimos filmes de Malick podem exemplificar um pouco essa linha.

 Alem da Linha Vermelha e O Novo Mundo trabalham com a perspectiva de uma relação conflituosa entre o homem e a natureza.No primeiro, a floresta tropical é destruída por soldados durante a II Guerra,no segundo o clima temperado/paradisíaco é corrompido pelo colonizador americano.Nada mais que uma reflexão da impossibilidade de interação entre o homem e natureza e própria natureza humana que através disso se corrompe.Não se assuste se a sua primeira impressão ao assistir a algum filme do diretor é estar diante de um documentário da National Geographic.

Neste filme as coisas parecem ser bem diferentes, a relação entre o homem e a natureza é mediada pela religião,nunca explicita na semiótica da narrativa,mas percebida nos simbolismos expostos na trama.A história acompanha a trajetória de vida,memórias e angustias do personagem Jack (vivido na fase adulta por Sean Penn e quando criança pelo excelente Hunter McCracken).Criado por uma família texana ( Brad Pitt e Jessica Chastian) nos anos 50 o já adulto Jack vive o vazio existencial e auto-punitivo em busca de um verdadeiro sentido da vida.A questão da existência é aqui exposta com maestria.Onde esta Deus e como devemos/podemos alcançar a ele?"Por que devemos ser bons se ele não é"?Reflexões bem bergminianas ,exemplificando aqui a sua obra prima O Sétimo Selo,mas que ganham um olhar diferente com Malick.

Como mencionado anteriormente,a película trada de uma abordagem religiosa da relação homem/natureza.Aqui vão alguns alguns alguns simbolismos bíblicos.O casal vivido por Pitt e Chastian representam as figuras de Adão e Eva,casal que vive sobre o simbolo do pecado.A própria construção do personagem de Chastian reflete o simbolismo da culpa e submissão de uma Eva que ofereceu o fruto proibido - lembrando que a imagem feminina só sera transformada com simbolismo de Maria,virgem sem pedado - fica claro na cena em que Pitt a culpa pelo fato dos filhos estarem distantes dele.

Outra grande sacada é  a relação entre Deus e homem simbolizada na interação entre o rígido pai e o jovem Jack.O conflito dos dois personagens irá mudar o destino do jovem Jack,a distancia do pai o faz ir para o mundo da danação e porque não dizer do pecado.A repulsa do garoto pelo pai, suscita a própria condição humana diante do designo de Deus.Como ser bom,se o castigo é tido como graça,ou como compreender a morte de alguém que amamos?Como amar alguém se este apresenta tão distante?Outro ponto a ser elencado é os Estados Unidos como a terra prometida e seu povo eleito por Deus,aqui uma própria menção ao Destino Manifesto.Mas nada disso parece ter sentido para os questionamentos de Jack.

Malick intercala cenas da família de Jack já adulto com belíssimas imagens para refletir sobre a existência.Estrelas nascem,outras morrem.O big bang acontece, erupções vulcânicas,nascimento da vida celular e período Jurássico poeticamente são apresentados assim como em 2001: Uma Odisseia no Espaço.Mas onde esta a Árvore da Vida?

Para o diretor a relação entre o homem e a natureza ou sua própria condição de imperfeição co-existem de forma harmônica.A Árvore da Vida não é apenas árvore do amor,perdão e graça,mais também a do ódio,medo,morte e pecado.Diferente de Bergman que negativiza a relação do homem com o mundo pela impossibilidade de se alcançar Deus,Malick aponta esses signos (morte,medo,ódio) como formas de se alcançar a própria redenção humana .É o equilíbrio natural que se assume quando se vive.

Escrito na madrugada do dia 26 de novembro.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Harry Potter e as Reliquias da morte -parte II e um balanço dos 10 anos


A pouco tempo assisti o ultimo e derradeiro capitulo do bruxo mais famoso dos cinemas e poderiamos dizer da industria pop,Harry Potter.O ultimo livro,que por opção artistica e creio eu financeira ,intitulado Harry Potter e as reliquias da morte,foi dividido em duas partes.Para os fans “trouxas” ,perdão pelo trocadilho,o hiato de quase um ano entre a primeira e a segunda parte aumentou ainda mais a ansiedade e expectativa em torno da obra.

Antes de fazer meu comentario sobre o filme em si,quero fazer algumas considerações sobre esses dez anos em que nós expectadores  acompanhamos a serie.O ponto mais importante e critico de toda produção seja ela filmica,literaria ou televisiva,quando se pensa em varias sequências é o desgaste que estas continuações podem causar a história original.No caso de Harry Potter toda essa responsabilidade foi transferida a autora dos livros, J.K Rowling que conseguiu dar seguimentos as aventuras do bruxo com muita competencia.
Talvez o grande contribuição dos filmes a historia do bruxo seja uma visualização do amadurecimento da estetica e dos personagens que consequentimente resultou em uma concretude visual,ou seja,tornou-se possivel visualizar como o mundo de Harry foi amadurecendo a partir de seu crescimento,descobertas e perdas.O campo imaginario e subjetivo da literatura deu lugar ao “real” e o “objetivo” mundo da setima arte.As duas primeiras aventuras infantilizadas e burocraticas chegaram a comprometer  e desconfiar os já desconfiados não fans da obra,que na epoca era lamentavelmente comparada a trilogia O Senhor dos Aneis.
No terceiro filme,Harry Potter e o  Prisioneiro de Azkaban dirigido por Alfonso Cuarón a obra ganhou um tom mais sombrio algo que vai ser desenvolvido no seguir das sequencias.Com David Yates assumindo a direção em Harry Potter e a Ordem da Fenix a serie atingiu seu ponto maximo na minha opinião.Na estetica,os filmes com Yates ganharam um tom mais realista e cruel,a mudança ocorre por dois fatores.O primeiro,no visual,o diretor optou pela medievalização dos cenarios tornando-os mais crus e sombrios,auxiliados por um fotografia em tons cinza-azulado.Além disso Yates compreendeu que o fantastico e o magico na serie não estava  nos cenarios imaginados por Rowling ou nos fentiços e animais mitologicos.A grande fantasia e magia residia no foco aos personagens ,principalmente Harry Potter.O grande crescimento do trio de protagonistas é sem duvida o maior legado de Yates.

No último capitulo da saga,vide que fui um dos maiores criticos na decisão de dividir os livros em duas partes,mas confesso que Yates segura as pontas com maestria.Em Harry Potter e as Reliquias da Morte-parte II parte do principio do termino do filme anterior.Ao contrario do que se possa imaginar é um filme em sua maioria pessado,triste e melancolico.Logo no inicio da pelicula vemos os alunos de Hogwarts enfileirados adentrando a escola da magia sobre um trilha altamente melancolica.O diretor choca o publico com essa cena já que a escola de magia,apesar dos desafios,sempre foi um ambiente de intensa descoberta,aventura e diversão para os alunos.

Em seu grande momento na tela Daniel Radcliffe condensa toda a melancolia e dor.Por isso em alguns momentos a obra falha por Yates não investir na emoção em algumas mortes que parecem frias e despercebidas.Mas todas esse escolhas partem da ideia do diretor em transportar a otica de Harry perante aos acontecimentos para o espectador,por isso toda a emoção que sentimos parte dele ou esta relacionada a ele.Outro grande ponto alto do filme é Severo Snape,aqui temos a dimensão o quanto é fabulosa a interpretação de Alan Rickman.Seu Snape reside na fronteira entre o bem e o mal,por isso suas frases pausadas como se sempre pensasse duas vezes antes de proferir uma palavra.No campo da ação as cenas de destruição de Hogwats são fabulosas e mais uma vez  a interferencia de Yates é vista aqui.Se alguns diretores pediriam para o compositor investir e uma trilha que destacassem as cenas de ação ,aqui em Reliquias da Morte-parte II ouvimos um trilha melancolica,que nos passa a ideia de tristeza pela destruição da tão querida escola e a perda de entes queridos.

Por fim,o desfecho da serie é digno dos milhões que arrecadou.Os dez anos provaram que Harry Potter se tornou uma saga não só fantastica pelo universo criado mais também pelo amadurecimento dos parsonagens e da história em si.Por mais que milhões de dolares investidos nos filmes pudessem interferir no trabalho de um diretor,aqui acompanhamos o contrario.Deve-se muito aos diretores e principalmente a Yates com suas escolhas o caminho honroso que o capitulo final trilhou.Por que  podemos comparar Voldemort a um facista assim como Hitler?Por que podemos falar de segregação social?Essas são marcas claras de um trabalho competente de um diretor que protagonizou entretenimento e arte em uma mesma obra.

E se você imaginou um final onde Hogwats seria a ultima imagem a ser mostrada,ou a camera se distanciando dos personagens.Você se enganou.Yates termina a saga com a imagem do que julga o mais importante da saga...o trio de protagonistas!





domingo, 13 de fevereiro de 2011

Oscar 2011




Caros amigos, saudades de escrever aqui!Sendo franco, não tenho dedicado minhas horas vagas para escrever aqui!Mas acho que chegou a hora de voltar a atualizar o blog com a chegada da mais popular premiação da indústria cinematográfica.
O Oscar 2011 repete a mesma formula do ano anterior com 10 indicados na categoria de melhor filme. Vamos direto aos palpites que desta vez podem soar como certos. Dentre os10 concorrentes,o páreo deve ficar mesmo entre os filmes, O Discurso do Rei e Rede Social, sendo o primeiro o favorito.Lamento se isso se confirmar – apesar das criticas positivas – o filme inglês é uma película muito obvia,tipo você assiste  e sai da sessão:”Esse filme é a cara do Oscar”.Politicamente correto,seguro na direção e com um elenco de primeira será difícil para o filme do facebook sair vencedor.Rede Social na minha opinião é um filme bacana,não é o perfil Oscar mas nem por isso não deixa de ser o grande filme do ano.
Na categoria direção creio que Davaid Fincher (Rede Social) segue como favorito, seguido por Tom Hooper ( O Discurso do Rei) e correndo por fora o mais talentoso de todos,Darren Aronovsky (Cisne Negro).Os outros são meros coadjuvantes,perdão do trocadilho,com destaque para os sempre talentosos irmãos Coen,com mais um faroeste (Bravura Indômita).
No campo das atuações Colin Firth ( O Discurso do Rei ) deve vencer a disputa com o jovem Jesse Eisenberg ( Rede Social).Firth já merecia levar uma estatueta mas prefiro Jesse e seu personagem anti-social.Menção honrosa a Jeff Brigdes (Bravura Indômita), James Franco (127 Horas) e o espanhol Javier Bardem (Biutiful).Na categoria melhor atriz Natalie Portman (Cisne Negro) deve desbancar a espetacular Annette Bening (Minhas mães e meu pai),que já merecia uma estatueta =/.Destaque para Michelle Williams em Blue Valentine.
Nos coadjuvantes  Christian Bale (O Vencedor) e Melissa Leo ( O Vencedor) devem levar as estatuetas.Eu particularmente gosto muito das atuações do Mark Ruffalo (Minhas mães e meu pai) e Geoffrey Rush ( O Discurso do Rei).Já na feminina aplausos para a jovem Hailee Steinfeld ( Bravura Indômita),na minha opinião a melhor de todas.
Mas o Oscar por ser um prêmio da indústria do cinema,creio que todos os indicados saem ganhando,afinal estão entre os melhores do ano.Tirando os já consagrados,não se espante se for ao cinema e ver mais vezes nomes como: Jesse Eisenberg, Jennifer Lawrence,James Franco, Hailee Steinfeld.Sem contar em alguns atores que conseguiram ressurgir a carreira como Nicole Kidman.
Outros palpites:
Melhor roteiro original
A Origem
Melhor roteiro adaptado
A Rede Social
Melhor longa animado
Toy Story 3
Melhor filme em lingua estrangeira
Biutiful
Melhor direção de arte
Alice no País das Maravilhas
Melhor fotografia
Cisne Negro
Melhores efeitos visuais
A Origem
Melhor figurino
O Discurso do Rei
Melhor montagem
A Rede Social
Melhor maquiagem
O Lobisomem
Melhor documentário
Lixo Extraordinário
Melhor trilha sonora
Trent Reznor e Atticus Ross - A Rede Social
Melhor canção original
We Belong Together - Toy Story 3
Melhor edição de som
A Origem
Melhor mixagem de som
Bravura Indômita









domingo, 9 de janeiro de 2011

A Rede Social



Quem diria que um filme sobre a história do facebook, iria se tornar a melhor película do ano que passou. Para aqueles que a subestimaram, esqueceram que no comando do elogiado A Rede Social (2010), estava David Fincher – diretor de O Clube da Luta e O Curioso caso de Benjamin Burton – no comando. A película se inicia de forma inusitada, em um dialogo difícil de entender entre o protagonista em questão, Mark Zuckerberg(Jesse Eisenberg , milimétrico) e sua namorada.
Mark e Eduardo,criadores do facebook.
Entre conversas sobre QI’s,irmandades secretas  de Havard e um fora que ele irá levar em seguida o grande conflito do filme esta ai,nesta simples cena.Para David Fincher,como o responsável por criar a maior rede de relacionamentos na internet não consegue se comunicar com as pessoas que estão a sua volta?A comunicação é aqui o grande lance em discussão. A falta de habilidade de Mark em se comunicar será geradora dos grandes conflitos do filme. E isso pode torná-lo na visão de quem assiste o grande vilão da história.
Contudo, o personagem de Eisenberg passa longe disso. Para mim ele só e fruto de uma geração que se distancia passo a passo de um contato digamos, ”pessoal” para um virtual. Não é a toa que o facebook torna Mark respeitado e conhecido dentro de Havard,até então a rede ainda não havia se espalhado por outro lugares,para um nerd desconhecido Mark esta se saindo bem.
É fato que a genialidade de Zuckerberg é um fator primordial para que o facebook desse certo. E Fincher exemplifica a genialidade quando Mark derruba a rede de Havard em uma votação para eleger a garota mais bonita da universidade. Mas o personagem não esta só, por enquanto... A ligação do personagem digamos com o mundo real é representada pela amizade com o brasileiro Eduardo Saverin(Andrew Garfield,excelente).Graças a essa atuação Garfield conseguiu o papel do Homem Aranha,no novo filme da Sony,com todos os méritos.
Com Saverin como manager e co-fundador,o facebook é criado. Apesar de Mark já esta envolvido em escândalos de plagio por propriedade intelectual. Assim como Cidadão Kane, de Orson Welles, a história é contata através de flashbacks, onde os depoentes contam sua versão da história em processos onde Mark esta no banco dos réus. Neste momento Zuckerberg esta só, ate seu melhor amigo Eduardo, que foi passado pra trás, esta pedindo uma indenização. Como fala o próprio personagem de Garfeild:”Eu fui seu amigo,seu único amigo”!
Falando do fim da amizade entre Mark e Eduardo. O calcanhar de Aquiles será a aproximação entre Mark e Sean Parker (Justin Timberlake,seguro),fundador da Napster.Sean tem todas as características que Mark almeja ter.Parker revolucionou a internet disponibilizando download’s de graça e alem do mais e bom com as palavras.Na película Parker não passa de 171,um aproveitador que vai influenciar Mark a trair Eduardo.
 Em suma, Fincher usa a contradição entre criador e criatura. Quanto mais o facebook se expande e se torna a mais famosa rede social, mais Zuckerberg se torna solitário e com alguns inimigos. Mark facilitou e modificou a maneira como as pessoas se sociabilizavam, mas a sua vida social estava cada vez mais escassa de amigos. Zuckerberg é o mais jovem e famoso bilionário da história isso é uma exceção,mas como um que cara tem milhões de amigos virtuais e nenhum de verdade, neste caso infelizmente não podemos dizer o mesmo.